Entre as peças do acervo desta coleção podemos destacar mais de 546
variedades de objetos relacionados ao vestuário e adornos corporais de vários povos,
fabricados com os mais diferentes tipos de material biológico. Muito expressivo
também são os objetos de uso doméstico, potes e tigelas de cerâmica, observando
diferentes técnicas de fabrico e de arte entre os povos. Esses objetos apresentam grande
encanto e poder de comunicação, revelando a memória dos povos, sua cultura tangível e
intangível, sendo um verdadeiro inventário da cultura, importante para a compreensão
do cotidiano dos povos indígenas.
Recentemente foi criado o projeto “Coleção Etnográfica Carlos Estevão:
Memória, Documentação e Pesquisa”, este projeto está localizado institucionalmente no
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE), registrado oficialmente no
Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de
Pernambuco, e no Museu do Estado de Pernambuco, sob a coordenação do Prof. Dr.
Renato Athias. O projeto, que tem apoio da Fundação de Amparo à Ciência e
Tecnologia de Pernambuco (FACEPE), e terá, ao longo de seu ano de duração, três
eixos de ação: catalogação, capacitação e restauração. A primeira etapa consiste em
realizar o diagnóstico das peças que precisam de revitalização. A intenção é preparar
funcionários de museus e estudantes do curso de Museologia da UFPE para trabalhar,
posteriormente, na restauração das peças da coleção etnográfica.
O museu além de um espaço de cultura, no sentido de guardião do registro de
uma cultura material, é também um espaço de memória que pode possibilitar a recriação
de uma narrativa dessa mesma cultura lá encontrada. Dentro dessa idéia, a coleção é em
si um material rico de memória, de descrição etnográfica, um inventário de vida de um
povo, um canal de comunicação entre espaços e tempos diferentes. Vale salientar que os
objetos constantes neste acervo assumem determinadas cargas valorativas pertinentes ao
discurso ideológico que a instituição museal vai estabelecer e delimitar, segundo os seus
próprios critérios e as suas tipologias. Entendendo as coleções etnográficas como um
testemunho de uma dada realidade, percebemos a sua importância enquanto elemento de
registro e documentalidade do espaço e tempo histórico no qual foram produzidos.
Faz-se necessário entender a problemática destas instituições e o papel que as
mesmas desempenham na sociedade contemporânea. Neste contexto, o museu como
exemplar típico de instituição cultural voltada para o resgate histórico, é um espaço
potencialmente habilitado para servir de instrumento de intervenção no todo social.