ACESSO E USO DE REPOSITÓRIOS DIGITAIS POR
DOCENTES BRASILEIROS DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Valdinéia Ferreira
1Mestre em Ciência da Informação, UFBA, Salvador, Bahia
RESUMO
A literatura científica indica um ponto consensual em relação ao advento das tecnologias
de comunicação e informação: as modificações ocorridas em toda sociedade e especialmente na
comunidade científica depois do seu aparecimento. Sua utilização tem configurado uma mudança
no comportamento dos pesquisadores no acesso e uso da informação científica. Diante desta
constatação buscou-se cumprir o objetivo geral de estudo, que foi observar os hábitos e as
necessidades que caracterizam o comportamento informacional dos pesquisadores doutores
docentes permanentes dos Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCI no
Brasil reconhecidos pela CAPES, no acesso e uso dos repositórios digitais durante o desempenho
de suas atividades de ensino, pesquisa e comunicação do resultado das suas investigações. Para
isto procurou-se identificar e caracterizar os docentes dos PPGCI no Brasil reconhecidos pela
CAPES; conhecer as principais preferências, hábitos e necessidades que caracterizam o
comportamento desses docentes; examinar a receptividade desses docentes aos recursos
informacionais eletrônicos, em especial aos repositórios digitais, averiguando sua familiaridade
com o Movimento de Acesso Livre à Informação Científica e a cultura do auto-arquivamento. Para
alcançar tais objetivos foi utilizado o método de Sarvey com a aplicação de entrevista e
questionários on-line e a realização da observação estruturada. Com os resultados coletados,
caracterizamos a população de estudo; suas preferências, hábitos e necessidades informacionais;
a familiaridade em relação ao Movimento de Acesso Livre à Informação Científica bem como, os
repositórios digitais e a cultura do auto-arquivamento. Finalizamos fazendo um comparativo com o
que era pretendido e os resultados obtidos considerando um salto satisfatório dentro dos objetivos
propostos. Concluímos com este estudo que é necessário uma mudança cultural e a quebra de
tabus para que os pesquisadores comecem a se engajar nas práticas próprias do novo paradigma
da comunicação científica.
Palavras-chave: Comunicação científica. Comportamento informacional. Repositórios digitais.
Acesso e uso da informação. Acesso livre à informação científica.
ABSTRACT
The scientific literature indicates a point of consensus on the advent of communication
technologies and information: the changes across society and particularly in the scientific
community after its onset. Its use has set a change in the behavior of researchers to access and
use of scientific information. Faced with to notice, we achieve our overall objective of the study was
to observe the habits and needs that characterize the behavior of researchers informational
permanent teaching doctors of the Graduate Program in Information Science in Brazil recognized
by CAPES, access and use of digital repositories for the performance of its activities of teaching,
research and communication of the results of their investigations. To identify and characterize this
look of teachers in Brazil PPGCI recognized by CAPES; know the main preferences, habits and

needs that characterize the behavior of these teachers, examine the receptivity of teachers to
electronic informational resources, in particular digital repositories, check their familiarity with the
Movement for Free Access to Scientific Information and the culture of self-archiving. To achieve
these objectives we used the method of Survey with the application of interview, and
questionnaires on-line and implementation of structured observation. With the results collected,
characterized the study population, their preferences, habits and needs informational, scientific
production and familiarity with the Movement of Free Access to Scientific Information and the
digital repositories of culture and self-archiving. Finally making a comparison with what was
intended and the results satisfactory considering a jump within the objectives. We conclude from
this study that requires a cultural change and breaking taboos for researchers to begin to engage
in practices peculiar to the new paradigm of scientific communication.
Keywords: Scientific Communication. Digital Repositories. Informational Behaviour. Use and
access of information. Free access to science information.
1 Introdução
Para entender as mudanças provocadas pelas tecnologias eletrônicas na prática
da atividade científica a partir da década de 1990 e compreender como elas vêm
interferindo na comunicação científica e na dinâmica de busca, acesso e uso da
informação científica é necessário caracterizar o comportamento informacional dos
cientistas. Essa perspectiva permite identificar os hábitos e as práticas adotadas pelos
pesquisadores quando buscam as informações de que necessitam.
Acreditamos que caracterizar e definir o comportamento informacional de
pesquisadores de uma determinada área do conhecimento, a princípio, vai permitir
entender, de forma concreta, de que modo as mudanças advindas da utilização dessas
tecnologias interferiram no processo de comunicação e na dinâmica de busca, acesso e
uso da informação científica. Isso vai possibilitar, portanto, identificar de que maneira os
pesquisadores agem quando buscam as informações científicas, acessam os repositórios
digitais e autoarquivam suas produções. Os resultados obtidos trarão esclarecimentos
sobre o nível de aceitação dos repositórios digitais por esta comunidade, contribuindo
para sua desmistificação junto aos docentes além de permitir uma visualização mais clara
do modelo de comunicação científica realmente vigente.
A preocupação recorrente com o processo de comunicação científica foi a mola
propulsora para o início desta pesquisa. O aprofundamento nos estudos e um recorte em
torno dos repositórios digitais, especialmente no comportamento informacional humano,

trouxeram questionamentos que englobavam desde os periódicos científicos eletrônicos,
seu modelo de negócios, a crise enfrentada devida à exploração das editoras científicas e
as tecnologias de comunicação e informação, até os movimentos internacionais que
davam suporte ao Modelo de Acesso Aberto. Questionamentos estes que fizeram parte do
cenário da pesquisa e contribuíram para uma melhor compreensão do contexto estudado.
As questões que orientaram a presente pesquisa envolveram a avaliação de cinco
aspectos decisivos do comportamento informacional dos pesquisadores brasileiros
vinculados a Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação: (1) suas
preferências e hábitos relacionados às atividades de ensino, pesquisa e disseminação
dos resultados científicos; (2) sua postura em relação aos recursos informacionais
eletrônicos; (3) sua atitude frente ao Movimento de Livre Acesso à Informação Científica;
(4) seu comportamento informacional diante dos repositórios digitais; (5) sua opinião
sobre o autoarquivamento e sobre a necessidade de preservação dos arquivos digitais.
Com esta pesquisa pretendemos alcançar o seguinte objetivo geral: observar os
hábitos e necessidades que caracterizam o comportamento informacional dos
pesquisadores doutores docente permanentes dos Programas de Pós-Graduação em
Ciência da Informação - PPGCI - no Brasil, no acesso e uso dos repositórios digitais
durante o desempenho de suas atividades de ensino, pesquisa e comunicação do
resultado das suas investigações. E como metas para sua efetivação os objetivos
específicos de: identificar e caracterizar os docentes dos PPGCI no Brasil reconhecidos
pela CAPES; conhecer as principais preferências, hábitos e necessidades que
caracterizam o comportamento desses docentes; examinar a receptividade desses
docentes aos recursos informacionais eletrônicos, em especial aos repositórios digitais,
averiguando sua familiaridade com o Movimento de Acesso Livre à Informação Científica
e a cultura do autoarquivamento.
2 Revisão de Literatura
O comportamento informacional humano é um tema recorrente na Ciência da
Informação. Os estudos focados nos usuários constituíram a temática predominante na
área a partir da década de 1980, e eram denominados de abordagem centrada no

usuário, abordagem da percepção do usuário ou abordagem ‘alternativa’. Seguindo sua
evolução, a partir do século XXI, estes estudos tomaram novos rumos buscando a
convergência entre as abordagens até então analisadas de modo isolado, ou seja, a
”tradicional” e a “alternativa”. A introdução das tecnologias eletrônicas de comunicação e
informação permitiu obter perspectivas do comportamento informacional até então
desconhecidas. Estas tecnologias alteraram os hábitos informacionais, forçando o
abandono de comportamentos usuais e criando diferentes necessidades informacionais.
Preocupados em diminuir as lacunas cognitivas e de sentido existentes, pesquisadores
como Wilson, Dervin, Ellis entre outros, começaram então a explorar de modo mais
incisivo os estudos de usuários. Estes estudos passaram a ser o foco central de muitas
investigações, pois se percebeu a contribuição que poderiam trazer para a área e para a
sociedade.
Existem diversos modelos de comportamento informacional tentando descrever
as atividades de busca informacional, suas causas e consequências ou as relações entre
os estágios do comportamento de busca da informação. (WILSON, 1999).
A revisão da literatura sobre comportamento informacional apontou vários autores
que abordam essa temática e que a analisam a partir de distintas perspectivas: cognitiva,
cognitivo-social, psicológica e organizacional, dentre eles destacamos, Wilson (1996),
Dervin (1983), Krikelas (1983), Ellis (1989), Kuhlthau (1991), Heinstrom ( 2005) e Choo
(2006). Seus estudos utilizam terminologia variada, relatando diferentes modelos
conceituais, sua aplicação em estudos empíricos e análise da ocorrência de fatores e
fenômenos que acabam por interferir nos resultados obtidos ao fim do processo de busca
por informação. A sensível variação terminológica, a diversidade metodológica, a ausência
de normalização das técnicas de apresentação dos dados e análises e a dissimetria entre
as populações estudadas foram algumas das dificuldades encontradas na
compatibilização dessas perspectivas e na definição de um modelo teórico mais
consolidado.
Estudando os hábitos e o comportamento informacional de uma população
representada por 36 sujeitos (27,3%) de um universo de 132 docentes, vinculados aos
Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação no Brasil, buscamos fazer a

convergência recomendada para os estudos contemporâneos do comportamento
informacional humano como salienta Martinez-Silveira e Oddone (2007), quando observa
que o século XX tem se caracterizado numa reconfiguração das várias abordagens de
estudo.
Investigando o acesso e o uso dos repositórios digitais por estes docentes,
procuramos aliar a utilização de um novo recurso eletrônico ao comportamento adotado
pelo usuário de uma área específica, focando aspectos relevantes dessa tecnologia, mas
sem perder de vista o usuário final e o seu contexto social. Pudemos também entender,
devido ao contexto estudado, de que modo os docentes pesquisados estavam
vivenciando o acesso e o uso dos recursos eletrônicos, em especial dos repositórios
digitais, para o processo de comunicação científica e de que modo eles estavam
percebendo o Movimento de Acesso Livre à Informação Científica na atual conjuntura.
Este estudo está fundamentado no modelo de comportamento informacional, do ano de
1996, do cientista da informação Tom Wilson, do Reino Unido, que centrou sua
abordagem no usuário e analisou o comportamento humano em relação aos recursos e
canais de informação, englobando a busca ativa e passiva e o uso da informação
3 Materiais e Métodos
Devido à natureza do fenômeno estudado, optou-se por uma pesquisa descritiva de
opinião, com abordagem qualitativa-quantitativa. A estratégia metodológica envolveu o
uso de questionário, seguido da análise dos dados empíricos coletados. A população
estudada reuniu 24 docentes do sexo feminino (66,7%) e 12 (33,3%) do sexo masculino,
totalizando 36 sujeitos (27,3%), de um universo de 132 docentes vinculados a Programas
de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Além da aplicação do questionário foram
ainda realizadas entrevistas semiestruturadas.
4 Resultados Finais
A análise dos dados coletados permitiu, inicialmente, a caracterização de uma
população em que predominam sujeitos do sexo feminino, em uma faixa etária que vai de
40 a 59 anos em sua maioria, com uma formação acadêmica acentuada em

Biblioteconomia e Ciência da Informação, mas com muitos doutores de áreas afins ou em
alguns casos muito distantes do núcleo duro da Ciência da Informação como Medicina,
Psicologia e História. Apesar do número de doutores na área, ainda é baixa a incidência
de docentes que realizaram estágio pós-doutoral. O período de dedicação à pesquisa é
um pouco maior que a dedicação ao ensino, o que nos faz inferir que a utilização dos
recursos informacionais deva ser também um pouco maior devido à demanda por fontes
de informação para a realização desta atividade. A faixa etária e o tempo de formação
permitiram supor tratar-se de sujeitos com larga experiência na pesquisa e ensino. Esta
caracterização resgata a teoria no momento da descrição das variáveis intervenientes,
apontadas no modelo de comportamento informacional de Wilson (1996) e indicadas
como: características pessoais; variáveis emocionais; variáveis educacionais; variáveis
demográficas; variáveis sociais/ interpessoais; variáveis ambientais; variáveis econômicas
e as características das fontes. Elas influenciam a ocorrência da necessidade
informacional, assim como a sua percepção e o modo pelo qual são satisfeitas. Partindo
de fatores como valores sociais, orientação política, conhecimento, estilo de vida, faixa
etária, local de trabalho define-se o comportamento informacional de indivíduos.
Quando resgatamos os dados referentes aos Programas de Pós-Graduação, a
formação acadêmica, o sexo e a faixa etária dos docentes pretendíamos correlacionar
estes aspectos demográficos na tentativa de identificar alguma necessidade informacional
decorrente destes fatores que diferenciasse os docentes de regiões específicas. A região
Sul, como podemos observar na Figura 1 abaixo, com uma maior representatividade dos
docentes e também uma maior concentração dos Programas, poderia apresentar algum
aspecto diferenciado devido ao fato de ter um maior volume de produção científica.
Entretanto, não foram identificadas diferenças significativas com relação aos
respondentes das outras regiões, bem como disparidades entre os respondentes dos
sexos opostos e também de faixas etárias diferentes da maioria. Esta observação serviu
para reforçar a caracterização da população estudada. O que inferimos com esta
observação é que, por pertencerem a um grupo específico, estes docentes demonstram
um comportamento informacional semelhante em relação aos hábitos e necessidades
informacionais, bem como ao acesso e uso dos repositórios digitais, o que é reforçado na

literatura por Wilson (1996) quando apresenta aspectos pontuados na caracterização da
população como relevantes para a análise do comportamento informacional.
Figura 1 Docentes respondentes por região
Fonte: Elaboração própria, com dados coletados durante a pesquisa
Reportando-nos a teoria salientamos que, evidencia-se neste contexto que as
necessidades informacionais ocorrem tanto no âmbito cognitivo quanto no sociológico,
pois os indivíduos e suas reações são importantes para o processo, bem como as
interações advindas do seu convívio social, particularmente do local de trabalho. O
ambiente no qual está inserido o indivíduo é preponderante para o aparecimento das
necessidades informacionais. Elas não podem estar separadas do contexto, da situação,
do ambiente, que são essenciais para estabelecer o seu diagnóstico. Neste âmbito, o
local de trabalho é um elemento muito importante que se relaciona intimamente com a
manifestação dessas necessidades informacionais, pois as atividades profissionais
determinam, em algumas circunstâncias, seu aparecimento, dimensão, ou ausência.
(MIRANDA, 2006). O grupo dos docentes dos Programas de Pós-Graduação em Ciência
da Informação enquadra-se, como observamos, nessa caracterização.
NE=19,4%
UFBA (8,3%)
UFPB (11,1%)
SE=52,9%
UFMG (11,1%)
UFRJ (2,8%)
UFF (11,1%)
USP (11,1)
UNESP/MARÍLIA (14,0%)
PUCCAMP (2,8%)
CO=8,3%
UNB (8,3%)
S=19,4%
UESC(11,1%)
UEL (8,3%)

Um dos autores que melhor resgata este aspecto é Wilson (1981) quando se
reporta às necessidades informacionais e a influência do contexto, situação e ambiente de
trabalho para a sua manifestação.
As necessidades nascem dos papéis dos indivíduos na vida social, e o mais
relevante desses papéis é o papel exercido no trabalho. Esse papel representa um
conjunto de atividades, responsabilidades etc. de um indivíduo na busca de seu
sustento e outras satisfações. Assim a necessidade de resultados em uma tarefa
particular e os processos de planejamento e tomada de decisão serão os
principais geradores de necessidades cognitivas; enquanto a natureza do
ambiente, combinada com a estrutura da personalidade individual, cria as
necessidades afetivas.
Analisando os dados apresentados nos Gráficos 1 abaixo, observamos que esta
Ótimo
28,7%
Bom
44,6%
Regular
20,5%
Nenhum
6,2%
Gráfico 1 Nível de conhecimento sobre o Movimento de Acesso Livre à Informação Científica
Fonte: Elaboração própria, com dados coletados durante a pesquisa
comunidade tem um nível de conhecimento sobre o Movimento de Acesso Livre à
Informação Científica que varia em sua maioria entre bom e ótimo, além de ser muito
favorável à sua filosofia, segundo dados apresentados nos questionamentos feitos ao
longo da pesquisa. Ressaltamos um depoimento em especial, que além de opinar sobre o
movimento, amplia seu comentário falando sobre o periódico científico de acesso livre e
os repositórios digitais. O respondente destaca o periódico citado, como a principal fonte
de disseminação cientifica desse movimento, porque é arbitrado e os repositórios digitais
carentes de uma maior credibilidade por parte da comunidade por não possuírem uma
avaliação pelos pares dos documentos inseridos. Este depoimento reflete um dos
entraves enfrentados pelos repositórios, pois uma grande parcela da comunidade
cientifica nutre a crença equivocada de que os repositórios não possuem um crivo para os
documentos depositados. Isto decorre da enorme diversidade de matérias que podem

compor o seu conteúdo que vão desde a produção científica do docente até relatórios de
aula, e toda documentação produzida pela instituição mantenedora. Crenças, opiniões e
em alguns casos falta de um conhecimento aprofundado sobre a temática levam a
suposições que nas situações pontuadas confirmam serem equivocadas.
Entretanto, a informação científica resultante das pesquisas e normalmente
apresentada no formato de artigos científicos, depositada nos repositórios digitais, passa
por uma avaliação prévia e caracteriza artigos que já foram publicados em periódicos
científicos de acesso livre que possuem a avaliação pelos pares e têm um fator de
impacto recomendado. Esta constatação reflete a superficialidade do conhecimento dos
respondentes sobre os repositórios digitais, pois, apesar de afirmarem que possuem
familiaridade, os considerarem importantes para o processo de comunicação científica e
indicarem que os utilizam sempre que necessário, demonstraram certo desconhecimento
sobre a sua natureza, conteúdo e mecanismos de funcionamento.
No âmbito das instituições de ensino onde atuam os docentes, sujeito de nossa
pesquisa, perguntamos sobre a existência de uma política para o acesso livre à produção
científica, 23 (48,9%) responderam que “SIM”, enquanto 18 (38,3%) responderam que
“NÃO” e 6 (12,8%) não sabiam sobre a existência de uma política dessa natureza. Estes
docentes, além de acessarem a informação, também a estão publicando, utilizando em
sua maioria os periódicos científicos eletrônicos. Acredita-se que por considerá-los mais
confiáveis e reconhecidos, como já pontuamos anteriormente. Esta opção recai sob uma
das estratégias para o acesso livre, representada pela via dourada, que se refere às
publicações de artigos e periódicos de acesso livre. A outra opção é a estratégia da via
verde, voltada para o autoarquivamento pelos autores da produção científica e
representada pelos repositórios digitais, ainda tímida, mas com manifestações de
crescimento entre os docentes da Ciência da Informação, como pudemos constatar com
suas respostas. Contudo, estas estratégias como comprovamos em Harnad e outros
(2004) ainda são consideradas muito lentas e incertas, pois também representam um
potencial problema para os autores e instituições que não podem arcar com os custos
advindos das atividades necessárias a estas publicações.

Observando os dados nos reportamos a Wilson (1996) quando ele analisa as
características das fontes salientando aspectos como acesso, credibilidade e canais de
comunicação. Foi indicado pelos docente sua familiaridade com a fonte analisada, os
repositórios digitais, 30 (78,9%) responderam que “SIM”, que tinham familiaridade com
repositórios digitais e 8 (21,1%) disseram que “NÃO”. Contudo, não pontuaram um acesso
e uso diário, o fazem apenas sempre que necessário. A indicação da existência de
repositórios digitais nas instituições em que os docentes estão vinculados foi significativa,
o que contrastou com o número observado nos sites utilizados para o mapeamento,
destacando um número pequeno em relação ao número de Instituições de Nível Superior
existente no Brasil. Infere-se com isto que os docentes em alguns casos não fazem
distinção entre repositórios temáticos e institucionais. E como salientamos antes, não
possuem um conhecimento apurado sobre estes repositórios. A característica da fonte de
informação é uma das variáveis apontadas por Wilson, como intervenientes para
desencadear o comportamento de busca da informação e como observamos nos dados
coletados na pesquisa, elas interferiram no comportamento dos docentes da Ciência da
Informação no momento que influenciam a opção pela busca ou não da informação.
De acordo com os dados coletados, os docentes da área da Ciência da Informação
indicaram: saber da existência dos repositórios digitais; acessar os repositórios digitais
como suporte para suas necessidades informacionais e até mesmo para a avaliação de
documentos autoarquivados, dando pareceres e atribuindo comentários aos mesmos;
possuir conhecimento regular sobre o funcionamento dos repositórios digitais e dos
mecanismos para autoarquivamento; possuir conhecimento sobre a importância desses
repositórios para a consolidação da proposta de livre acesso ao conhecimento científico,
que consideram muito importante e necessária. Entretanto, a maioria dos docentes
consultados não realiza o autoarquivamento de sua produção. Isso reforça a afirmativa de
alguns autores a respeito das baixas taxas de auto-arquivamento espontâneo, mesmo em
áreas que são pioneiras nesta atividade.
Reportando-nos a literatura, e citando Café e outros (2003), percebemos então que
a prova de que os sistemas de repositórios digitais estão realmente funcionando e sendo
utilizados é a constatação de que os pesquisadores estão depositando suas produções. O

que observamos é que essa prática não vem ocorrendo no nível ideal na comunidade
pesquisada. Inferimos que isto se deve a restrições que se originam de fatores que se
caracterizam como: a falta de confiabilidade nestes recursos por considerá-los muito
novos; a preocupação com a qualidade dos trabalhos depositados; a preferência em
publicar em periódicos já consagrados e que tenham um fator de impacto conhecido; a
confiança na avaliação tradicional realizada na revisão pelos pares; as questões
referentes ao copyright e dificuldades outras, não amplamente divulgadas pelos docentes,
que podem se derivar desde restrições pessoais, a habilidades no manejo da tecnologia.
Constatamos novamente a interferência das características das fontes. Além de alguns
autores pontuarem também a inércia acadêmica surpreendentemente impossível de ser
modificada pontuada por Harnard (2007).
5 Considerações Finais
Ficou clara a necessidade de mudança cultural e de quebra de tabus para que os
pesquisadores comecem a se engajar nas práticas características do novo paradigma da
comunicação científica. A necessidade de capacitação e conscientização da comunidade
são aspectos relatados na pesquisa. Mudanças organizacionais e culturais também são
fatores que podem facilitar ou comprometer o sucesso de um repositório digital e dos
mecanismos por ele disponibilizados. Apesar da indicação de familiaridade com os
recursos informacionais eletrônicos, a comunidade da Ciência da Informação mostrou que
não os utiliza com muita frequência e de modo apropriado. Verificou-se também que ainda
é necessário um maior aprofundamento nos estudos sobre os hábitos e o comportamento
informacional dos pesquisadores brasileiros da Ciência da Informação e de outras áreas
do conhecimento. Uma recomendação que pode ser feita é relativa à tentativa de superar
a opinião dos respondentes através da utilização de outras técnicas de coleta, que podem
fornecer dados mais consistentes.

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