VANDALISMO E FURTO EM BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS
Patricia da Silva Costa 1
1Bibliotecária - Bolsita PCI, Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de Janeiro, RJ
Resumo
Esta pesquisa objetiva identificar e descrever processos de ação nefasta, no âmbito da
integridade e preservação de materiais bibliográficos, que envolvem vandalismo e furto
implementados por usuários em bibliotecas universitárias. A metodologia validada na
pesquisa foi a análise qualitativa dos questionários-entrevista, utilizado como instrumento de
coleta de dados com quatro perguntas abertas. A aplicação das entrevistas através de um
questionário tornou possível a organização antecipada das informações que seriam
oferecidas, como a definição de uma tipologia que está dividida em dois grupos; vandalismo
e furto: falseamento do exemplar; recorte profissional; recorte de amador; distinção do
exemplar e manuseio inadequado; furto simples; furto premeditado; furto “o filho à casa
torna”; furto “B.O.” e não-furto. O conhecimento dos modos de ação dos vândalos e das
técnicas empregadas para furtos, assim como a verificação de identidade de problemas,
pode favorecer o alcance de soluções e medidas de prevenção e combate.
Palavras-chave: Vandalismo. Furto. Destruição. Biblioteca Universitária.
Abstract
This research aims to identify and describe procedures for the disastrous action, under the
integrity and preservation of library materials, involving vandalism and theft implemented by
users in university libraries. The research was validated methodology in the qualitative
analysis of questionnaires- interview, used as a tool for data collection with four open
questions. The implementation of the interviews through a questionnaire made possible the
early organization of information that would be offered, as the definition of a type that is
divided into two groups; vandalism and theft: distortion of copy, cut training; cutting from
amateur; distinction of copy and improper handling; simple theft, premeditated theft, theft "the
child makes the house"; theft "BO" and non-theft. The knowledge of the modes of action of
vandals and techniques employed to theft as well as the verification of identity problems, can
promote the range of solutions and measures to prevent and combat.
Keywords: Vandalism. Theft. Destruction. University Library
1 Introdução
O acervo de uma biblioteca universitária, como o de toda e qualquer
biblioteca, é resultado de processos de formação e desenvolvimento de coleções
estabelecidos com o objetivo de difundir e dar acesso às informações organizadas.

Embora o vandalismo e o furto de materiais bibliográficos sejam correntes nas
bibliotecas, há pouca literatura sobre o assunto. Boa parte da literatura disponível
trata da preservação de acervos bibliográficos sob contexto dos fatores ambientais e
biológicos, que concorrem para sua degradação ao longo do tempo.
Após o exposto foi traçado como problema deste estudo: Qual o perfil do
vandalismo e furto praticados em bibliotecas universitárias?
Considerando essas perspectivas, entendeu-se a necessidade de inventariar
os modos praticados por usuários que levam à subtração ou à destruição, parcial ou
total, de livros de bibliotecas. Esse inventário arrolarou os modos identificados e
declarados por bibliotecários, curadores de acervos – a cada modo descrito,
pretende-se associar mecanismos de controle que inviabilizem sua consecução, que
protejam o acervo.
Objetivou identificar processos de ação nefasta e descrever, no âmbito da
integridade e preservação de materiais bibliográficos, que envolvem vandalismo e
furto implementados por usuários em bibliotecas universitárias. Pretendeu-se, ainda,
a partir dessa identificação e descrição, dar subsídios aos bibliotecários para coibir e
lidar com esse problema.
2 Revisão de Literatura
A biblioteca universitária é aquela que salvaguarda acervos de pesquisas,
apóia, promove e desenvolve o saber em dois aspectos, por meio do acervo e pelas
relações estabelecidas com os usuários; justifica-se pelo apoio oferecido ao
desenvolvimento e produção do conhecimento – ensino, pesquisa e extensão
(LEITÃO, 2005).
Neste estudo, biblioteca universitária foi entendida como aquela que dá
acesso livre as estantes; proporciona consulta local; realiza empréstimo domiciliar de
livros; oferece os serviços e produtos disponíveis na biblioteca.
O usuário é o individuo que utiliza os serviços e produtos de uma biblioteca –
no caso, uma biblioteca universitária. Nesta pesquisa entendeu-se como usuário o
corpo docente, o corpo discente e os funcionários que utilizam o acervo bibliográfico
da biblioteca universitária, em consulta local ou domiciliar, o usuário real,
devidamente inscrito na biblioteca. Além disso, o usuário é também o visitante,

aquele sujeito estranho ao grupo -usuário potencial, mas que tem livre acesso para
consulta local. O usuário em estudo é o “mau leitor [... aquele] que inflige maus-
ratos ao livro [...] Sempre que pode passar despercebido, dilapida ou depreda o
patrimônio desses estabelecimentos.” Neste caso, existem dois tipos de usuário: “O
biblioclepta, que surrupia o que é possível [burla a vigilância]. E o biblioclasta, que
pratica o ato mais condenável: mutila as obras solicitadas à consulta, cortando folhas
e folhas de textos ou subtraindo estampas e ilustrações” (FRIEIRO, 2007, p. 96).
Houaiss (2001, p. 2827) define vandalismo como “ato ou efeito de produzir
estrago ou destruição [...] em quaisquer bens públicos ou particulares, [...] com o
propósito de arruiná-los”.
O furto é definido por Alves (2006, p. 244) como “crime contra o patrimônio,
consistente em subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, [...] constituí
contravenção penal [...] a prática de furto bem com a posse não justificada”.
3 Materiais e Métodos
Foram eleitas quatro Instituições de Ensino Superior (IES), que possuem
bibliotecas de grande porte. A pesquisa foi realizada em duas IES Federais, uma
IES Estadual e uma IES particular, todas do Estado do Rio de Janeiro. As IES foram
mantidas em anonimato, com o intuito de preservá-las. A visita levou à constatação
de que os bibliotecários organizam as bibliotecas acreditando que o usuário
compreenderá que a unidade de informação é um bem patrimonial. Os seguintes
critérios de seleção das bibliotecas estudadas foram considerados: renome
institucional, espaço na mídia, volume significativo de corpo discente e número de
cursos oferecidos. Esses critérios foram eleitos aleatoriamente, a partir de
informações consagradas no meio acadêmico, levando à seleção de quatro IES.
Durante as visitas aplicou-se à técnica de entrevista, utilizando como
instrumento de coleta de dados um questionário-entrevista com quatro perguntas
abertas. A entrevista é uma técnica que faz com que o entrevistado se expresse
naturalmente, fluindo sobre o assunto abordado e sem ser induzido durante a
mesma (LEITÃO, 2005, p. 80). A aplicação das entrevistas através de um
questionário tornou possível a organização antecipada das informações que seriam

oferecidas. As entrevistas foram gravadas, logo após, transcritas para posterior
análise dos dados.
4 Resultados Parciais/Finais
4.1 Técnicas de vandalismo e furto em Bibliotecas Universitárias
Através desta pesquisa foi possível identificar os tipos de danos causados aos
livros, sendo divididos em 2 grandes grupos: Vandalismo e Furto.
Dentro do grupo Vandalismo encontramos os seguintes tipos de práticas:
falseamento do exemplar; recorte profissional; recorte de amador; particularização
do exemplar e manuseio inadequado.
Falseamento do exemplar: numa biblioteca universitária é regular o
empréstimo de exemplares de uma mesma obra que serão utilizados em aulas
práticas ou provas. Quando esses exemplares são usados para provas, os alunos os
retiram, por empréstimo, com alguma antecedência, como se fossem estudar a
matéria. No entanto, essa antecedência é necessária para o preparo de uma “cola”
que é inserida no exemplar, do seguinte modo: o aluno digita a matéria e outras
informações que considera necessárias em papel e tamanho de fonte similares
àqueles utilizados na impressão do livro; essas folhas digitadas são inseridas entre
as páginas do livro, coladas pelo festo é a “parte do caderno onde as folhas do livro
estão dobradas e onde são cosidas” (FARIA; PERICÃO, 1988,p.143), falseando o
exemplar, criando a ilusão de que são páginas originais do livro, com a intenção de
que o professor, que supervisionará a prova, não perceba. Quando o exemplar é
devolvido à biblioteca, ainda, traz essas adulterações inseridas e coladas, e o
atendente não tem condições imediatas de constatar a falsificação, dada à
semelhança com o texto original. Essa constatação só é possível mediante a
verificação, página por página, dos itens identificados com esse dano e o simultâneo
confronto entre todos os exemplares. Evitar o dano é circunstância que dependerá, e
muito, da perspicácia do bibliotecário.
Recorte profissional: o individuo subtrai a parte que lhe interessa do livro, com
um aparelho cortante – o aparelho mais comum é o estilete. Esse recorte é feito com
requintes de perfeição, de modo a não deixar vestígios muito aparentes. Tudo indica
que o agente desse dano, apóia o livro, saca a lâmina, e utilizando uma régua para

guiá-la. Depois, recoloca o exemplar na estante, guarda a parte extirpada do livro
junto ao corpo e sai da biblioteca, sem levantar desconfianças. Desse modo, inutiliza
parcial ou totalmente o exemplar. Esse modo de ação só é identificado, se o agente
não for flagrado, quando outro usuário requisitar o exemplar e denuncia o fato ou por
ocasião de procedimentos técnicos e administrativos da biblioteca. Se o dano
causado for parcial, as bibliotecas tendem a inserir reproduções das páginas
faltantes, a partir de outros exemplares – o que exigirá a re-encadernação do
exemplar mutilado.
Recorte de amador: o individuo subtrai a parte que lhe interessa do livro, sem
o uso de qualquer aparelho cortante. Esse recorte é feito sem cuidados, deixando
vestígios muito aparentes. Tudo indica que o agente desse dano, não apóia o livro;
mas, entreabre o volume no trecho que pretende subtrair e, rapidamente, arranca
imagens, páginas, cadernos e até todo o miolo. Eventualmente, o suporte não
resiste a essa violência e pode rasgar-se, alcançando o texto, tornando-se inútil até
para o agente do dano. Quando isso ocorre, o agente, recompõe o volume, inserindo
a parte arrancada e recolocando-o no lugar. Daí parte para nova e igual tentativa,
em outro exemplar. Se for bem sucedido, recoloca o exemplar na estante, guarda a
parte extirpada do livro junto ao corpo e sai da biblioteca, sem levantar
desconfianças. Desse modo, inutiliza parcial ou totalmente o exemplar. Esse modo
de ação só é identificado, se o agente não for flagrado, quando outro usuário
requisitar o exemplar e denunciar, ou por ocasião de procedimentos técnicos e
administrativos da biblioteca.
Particularização do exemplar: o individuo após retirar o livro para consulta
domiciliar (raramente, em consulta local), faz anotações manuscritas ao longo do
texto impresso, às margens, com lápis ou caneta; grifam passagens, colorindo
textos, figuras e margens, como se o exemplar consultado fosse de uso particular,
onde pudesse fazer marcações que, em princípio, facilitariam seus próprios estudos.
Esse tipo de vandalismo poderia ser classificado como “inocente”, na medida em
que o usuário não parece ter intenção de destruir o exemplar. Seu comportamento
“é tão cândido e despreocupado que ficamos com a impressão de ele não ter
consciência do que seja a custódia de livros alheios” (Guardini, 1994, p. 38). Esse
modo de ação só é identificado, se o agente não for flagrado, quando o atendente

examina o exemplar devolvido, questiona o usuário e solicita a reposição de
exemplar íntegro, sem àquelas particularidades.
Manuseio inadequado: esse tipo de vandalismo pode ser classificado como
“inconsciente”, pois o usuário não tem noção do alcance dos danos ocasionados,
por exemplo, por uma simples retirada de um livro da estante pela cabeça da
lombada. Vários modos de impingir dano aos livros por manuseio inadequado foram
verificados, a saber: indivíduos que apóiam cotovelos ou outro peso sobre os livros,
quando não dormem sobre eles; outros que, para não sujar as roupas, usam os
livros como assento; outros, ainda, comem, bebem e fumam enquanto consultam
livros, deixando marcas e resíduos entres suas páginas. O manuseio inadequado só
é identificado, se o agente não for flagrado, por ocasião de procedimentos técnicos e
administrativos da biblioteca.
Dentro do grupo Furto encontramos as seguintes práticas: furto simples; furto
premeditado; furto “o filho a casa torna”; furto “B.O.” e o não furto.
Furto simples: O exemplo mais comum, em bibliotecas sem proteção
eletrônica, é quando o indivíduo esconde o livro junto ao corpo e sai com ele,
furtivamente, da biblioteca. Isto é possível, quando o usuário porta roupas largas ou
quando a observação do salão, pelos atendentes, não é eficaz. No entanto, esse
tipo de furto acontece, também, quando a biblioteca é protegida. O biblioclepta
aproveita a hora em que o atendente está distraído com outras rotinas da biblioteca
ou quando muitos usuários esperam atendimento junto ao balcão de atendimento.
Aquele usuário, mal intencionado, deixa o livro sobre o balcão de atendimento,
passa pelo detector de segurança sem nada nas mãos e, pelo lado de fora, pega o
livro que está sobre o balcão da biblioteca. Isto só é possível em função do leiaute
do Serviço de Referência, que instala o balcão junto à saída, muitas vezes, com
vãos sem controle, e nos horários de alto fluxo de usuários. Essas formas de furtos
foram classificadas como simples, porque resultaram de circunstâncias em que “a
ocasião fez o ladrão”.
Furto premeditado: O indivíduo entra numa biblioteca que mantém as janelas
abertas, seleciona o que lhe interessa e, num momento de desatenção do
atendente, joga o livro pela janela. O exemplar é agarrado por outro indivíduo, um
cúmplice, que aguardava, sob a janela. Esse procedimento é claramente planejado.

O usuário sabe que a biblioteca não dispõe de recursos de proteção de janelas;
sabe que as janelas, às vezes, são mantidas abertas por necessidade de ventilação,
para conforto dos usuários; e, mesmo assim, não hesita em atender suas próprias
necessidades, furtando o livro desse modo. Outro exemplo é o individuo que arranca
as páginas ou as capas onde, tradicionalmente, estão instalados os mecanismos
anti- furto. Essas partes são recolocadas na estante, “arrumadinhas”, e o miolo, sem
qualquer sinalética capaz de acionar o sistema de segurança, é escondido junto ao
corpo. Neste caso, o leitor também dispõe de informações sobre rotinas da
biblioteca; ele as analisou, ponderou sobre suas possibilidades de sucesso, e
implementou o furto. Esses modos de ação só são identificados se os agentes forem
flagrados.
Furto “o filho a casa torna”: O individuo é um ex-aluno que retorna para
consultar a biblioteca da instituição em que se formou. Eventualmente, aquela
biblioteca, por norma regulamentar, não faz empréstimo domiciliar para ex-alunos.
Ciente disto e priorizando a necessidade que tem do livro, em detrimento da
biblioteca, o indivíduo vandaliza ou furta o exemplar, utilizando várias rotinas, que
vão desde o furto simples a outras técnicas. A condição de ex-aluno é o que o torna
suspeito.
Furto “B.O.”: o assalto, se efetivamente aconteceu, serve de pano de fundo
para que o usuário fique com o livro da biblioteca. Em algumas circunstâncias, o
individuo até se predispõe a compensar a biblioteca com outro livro, pois na maioria
das vezes em que esse tipo de furto ocorre. Verifica-se que os exemplares perdidos
referem-se a obras esgotadas, sem possibilidade de reposição. As bibliotecas se
defendem, neste caso, abrindo processos internos para apurar os eventos
declarados e o prejuízo sofrido pelo acervo. No entanto, segundo depoimentos
colhidos entre os entrevistados que sofreram esse tipo de furto, “isso nunca dá em
nada”.
Não-furto: ocorre quando o indivíduo, que não pode retirar determinado livro
em determinado momento, o “esconde” no acervo, retirando-o de seu ponto de
armazenamento e colocando-o em outro ponto de guarda, inviabilizando sua
recuperação e empréstimo, até que ele mesmo venha, efetivamente, buscá-lo. Tal
procedimento impede que outros usuários utilizem o item, resguardando-o para uso,

prioritário, pelo usuário que o esconde. Esse modo de ação só é identificado se o
agente for flagrado ou quando o bibliotecário localiza o exemplar “escondido”. Ao
verificar essa circunstância, o bibliotecário mantém o item na condição “não-furto”,
mas controla a situação, até que aquele usuário venha buscá-lo, sendo desse modo
identificado e submetido a sanções cabíveis.
4.2 Ações adotadas pelos bibliotecários nas universidades
Em todas as bibliotecas estudadas, os bibliotecários demonstraram ter ciência
dos problemas que ocorrem em suas instituições e descreveram algumas ações
adotadas para evitar ou diminuir a ocorrência de vandalismo e furto: campanhas de
conscientização e medidas de baixo recurso.
Alguns dos bibliotecários entrevistados implementaram políticas de
preservação, que envolvem a conscientização do usuário sobre a importância do
acervo; por exemplo, através de exposições permanentes ou por ocasião de
efemérides.
Um dos entrevistados descreveu como procedimento regular a “semana do
livro”, no mês de outubro – que pode, eventualmente, ser antecipada ou prorrogada.
Trata-se de exposição de livros que sofreram vandalismo, identificados no decorrer
do ano. Esse dano é tratado, pelo entrevistado, como conseqüência de um vírus,
que é divulgado através de banners que são colocados nas áreas comuns da
biblioteca, em revistas em quadrinhos e marcadores de livros, que são distribuídos.
Esse material inclui personagens que descrevem como se pega o vírus e os efeitos
que causam aos usuários. A idéia é despertar uma reflexão sobre o dever social no
trato e cuidado com o acervo da biblioteca. É importante ressaltar que a idéia de
associar os danos sofridos pelo acervo àqueles provocados por um vírus é
consagrada em bibliotecas; inclusive, várias que não foram objeto de pesquisa, tais
como: a Fundação Getulio Vargas de São Paulo, a Universidade de São Paulo, a
Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal de Goiânia.
Outro procedimento descrito é o “trote solidário” ou “trote inteligente”, em
parceria com os Diretórios Acadêmicos (DAs), no qual usuários potenciais realizam
pequenos reparos nos livros danificados ou ordenam os livros nas estantes,
colocando-os em seus devidos lugares.
Em algumas bibliotecas universitárias são disponibilizadas caixas de coleta,

estrategicamente instaladas, para a devolução anônima de livros furtados, sem que
isso implique qualquer tipo de punição – houve quem denominasse esse
procedimento como o “dia da devolução de livro”.
Treinamentos de usuários são realizados através de visitas guiadas, na
biblioteca, e palestra, que apresentam a biblioteca e seus serviços e produto como
complemento de campanhas de conscientização, mostrando para o usuário que a
biblioteca é um bem comum a todos.
Nas bibliotecas pesquisadas, constatou-se que além do investimento na
conscientização do usuário, são promovidas várias ações de baixo custo –
entendidas como procedimentos quotidianos, que pouco comprometem os recursos
disponíveis ou não exigem a captação de altos valores, tais como: fechamento de
janelas; vigia continuada das áreas de consulta local e de circulação; instalação de
guarda-volumes; cadastro de usuários; conferência de item consultado; inventário
anual; implantação de sistema anti-furto; acesso por uma única porta de entrada e
saída; divulgação do regulamento da biblioteca; conservação do exemplar
4.3 Propostas de soluções
Diante do exposto, é fácil constatar que não é possível arrolar todas as
soluções que permitem o controle do uso dos acervos de bibliotecas universitárias,
inibindo o vandalismo e o fruto. Cada solução dependerá das leis e normas que
regem a Biblioteca.
Esta pesquisa não objetivou a redação de um manual de segurança, mas
pode oferecer uma gama de soluções possíveis, que podem ser adaptadas a cada
realidade.
O vandalismo e o furto, danos que são constatados tempos depois, por meio
de inventários ou por conta da necessidade de um usuário à procura de determinado
item que até então não se sabia estar desaparecido, são às vezes irreversíveis.
Segundo Trinkley (2001, p. 77), alguns consultores de segurança
recomendam que a instituição faça uma avaliação dos riscos enfrentados pelas
bibliotecas. Esta avaliação está dividida em dois passos.
O primeiro seria coletar informações sobre a perda de material da biblioteca,
que implique em identificar: a época de maior índice de perdas, em relação ao ano
letivo; o tipo de material atingido; os setores mais suscetíveis da biblioteca (a maioria

das perdas ocorre em lugares de pouca ou nenhuma segurança). O segundo passo
seria obter informações estratégicas, procurando a polícia e consultando a
legislação.
Os responsáveis pela biblioteca devem ter conhecimento sobre a legislação e
como proceder diante de uma situação de vandalismo e furto sobre o acervo que
está sob a sua responsabilidade. Segundo o Código Penal, parte especial, Título II
que trata de crimes contra o patrimônio, em seus Capítulos I, IV e V, dispõem sobre
os crimes de furto, dano e apropriação indébita, respectivamente.
Será considerado furto simples, segundo o artigo 155, a subtração para si ou
para outrem de um livro da biblioteca. Será tratado como dano, segundo o artigo 163
o ato de destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia, como retirar páginas ou
ilustrações de livros. E por fim, será qualificado como crime de apropriação indébita,
artigo 168, quando o usuário apropria-se de coisa alheia móvel, ele tem acesso ao
um livro, por meio de empréstimo ou consulta, e não o devolve a instituição de
direito. (VADE MECUM, 2006, p. 558-560).
Segundo o Museu de Astronomia e Ciências Afins (2006), os curadores das
bibliotecas devem adotar algumas medidas simples, tais como: estabelecer políticas
de segurança, através de um documento que constitua e explique os critérios e
procedimentos de segurança adotado pela instituição; nomear um responsável pela
segurança da biblioteca, o que não tirará a responsabilidade dos outros, pois este,
apenas, proverá e administrará a segurança; planejar e realizar programas de
conscientização, através de treinamento de usuários para conscientizar as pessoas
sobre o respeito aos bens comuns a todos; identificar riscos e ameaças; e
estabelecer punições eficazes contra os “maus usuários”.
Com essas informações, o bibliotecário conseguirá estabelecer critérios para
a implementação de uma política de preservação e de uma política de seleção que,
associadas, promovam a longevidade de sua biblioteca.
Na política de seleção o bibliotecário deve levar em consideração que a
aquisição de itens para a biblioteca gera obrigações. Comprar apenas o que pode
ser conservado é indiretamente um meio de preservação, pois todo bibliotecário
deve ter consciência que quando se compra estará propício a correr riscos. Como
afirma Vergueiro (1995, p. 17), o bibliotecário de aquisição deve considerar a

probabilidade de o material selecionado vir a ser alvo de vandalismo, furto ou
mutilações.
O bibliotecário deve cultivar o acervo como se fosse o proprietário dele, pois
ele tem o dever de preservar este acervo para presentes e futuros usuários. Leitão
(2005) justifica esta ponderação, argumentando que “a biblioteca universitária [...] se
justifica pelo apoio que oferece ao desenvolvimento e produção do conhecimento”.
Sabe-se que os recursos propostos nesta pesquisa não irão solucionar todos
os problemas existentes no dia-a-dia das bibliotecas, mas existe a esperança de que
as soluções sugeridas possam amenizar a situação de perda nos acervos.
5 Considerações Parciais/Finais
A necessidade de realizar esta pesquisa se deu pela constatação dos
problemas enfrentados pelas bibliotecas universitárias, que sofrem com a destruição
de livros.
A destruição ocorre desde a Antigüidade, e persiste até os dias de hoje. No
caso das bibliotecas universitárias, os acervos sofrem com o vandalismo e o furto
sem a menor preocupação dos usuários freqüentadores, que são variados e em
constante rotatividade.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas nesta pesquisa foi à falta de
literatura especializada no assunto.
A estratégia de busca, então, elegeu o levantamento de dados através de
questionários entrevista, aplicados aos responsáveis por bibliotecas universitárias, e
assim, os problemas enfrentados foram detectados.
Em todas as IES estudadas, os bibliotecários têm ciência de que os acervos
sob sua responsabilidade sofrem vandalismos e furtos, impostos por indivíduos que
freqüentam as bibliotecas.
Um dos resultados, verificados informalmente, com esta pesquisa, foi a
conscientização do bibliotecário, como curador e guardião do acervo; uma função
que lhe atribui a responsabilidade de preservá-lo.
O levantamento das técnicas de vandalismo e furto levou à constatação de
muitas identidades, com a repetição de modos de ação e técnicas, verificadas em
todas as bibliotecas estudadas.

O conhecimento dos modos de ação dos vândalos e das técnicas
empregadas para furtos, assim como a verificação de identidade de problemas,
pode favorecer o alcance de soluções e medidas de prevenção e combate.
Por fim, acreditamos que esta pesquisa poderá contribuir para a reflexão
sobre esse tipo de problema, tão negligenciado pela literatura, e tão real no
quotidiano das bibliotecas.
6 Referências
ALVES, Geraldo Magela. Novo vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Ed. Roma Victor,
2006.
FARIA, Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do livro: terminologia relativa
ao suporte, ao texto, à edição e encadernação, ao tratamento técnico, etc. Lisboa:
Guimarães
Editores, 1988.
FRIEIRO, Eduardo. Os livros nossos amigos. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial,
2007.
GUARDINI, Romano. Elogio do livro. Lisboa: Grifo, 1994.
HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello.
Dicionário Houaiss de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Instituto Antonio Houaiss de
Lexicografia: Objetiva, 2001.
LEITÃO, Bárbara Júlia Menezello. Avaliação qualitativa e quantitativa numa Biblioteca
Universitária. Rio de Janeiro: Intertexto; Niterói: Interciência, 2005.
MUSEU DE ASTRONOMIA E CIÊNCIAS AFINS. Política de segurança para arquivos,
bibliotecas e museus . Rio de Janeiro: MAST: Museu Villa-Lobos, 2006.
TRINKLEY, Michael. Considerações sobre preservação na construção e reforma de
bibliotecas: planejamento para preservação. 2. ed. Rio de Janeiro: Projeto Conservação
Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional, 2001.
VADE MECUM. São Paulo: Saraiva, 2006.
VERGUEIRO, Waldomiro. Seleção de materiais de informação. Brasília: Briquet de
Lemos/Livros, 1995.