PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE INSTÂNCIAS DA REDE BVS
Cláudia Hofart Guzzo1, Bárbara Cristina Araújo Uehara2
1Coordenadora, BIREME/OPAS/OMS, São Paulo, Brasil
2Técnica, BIREME/OPAS/OMS, São Paulo, Brasil
Resumo
Os processos de avaliação são cada vez mais significativos e imprescindíveis para alcançar
níveis de excelência de sites, portais e bibliotecas virtuais. Na Rede Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) a metodologia de avaliação de instâncias da BVS vem sendo aperfeiçoada
constantemente com o objetivo de melhorar a qualidade das mesmas. Este Relato de Caso
sintetiza a metodologia de avaliação de instâncias da rede BVS e os resultados alcançados
no mapeamento de processos e aperfeiçoamento de fluxos de trabalho na realização de
avaliações que contribuem com a ampliação da rede BVS na América Latina e Caribe.
Palavras-Chave: Biblioteca Virtual em Saúde; Avaliação de Bibliotecas Virtuais,
BIREME/OPAS/OMS
Abstract
The assessment processes are increasingly significant and essential to achieve increasing
levels of excellence for websites, portals and virtual libraries. In the Virtual Health Library
(VHL) Network the assessment methodology of VHL’s instances have been improved
constantly in order to increase their quality.. This case report synthesizes the methodology
for evaluating instances of VHL and the results achieved in process mapping, as well as
improvement of the workflows in the assessments that contribute to the expansion of VHL in
Latin America and the Caribbean.
Keywords: Virtual Health Library; Evaluation of Virtual Libraries, BIREME/PAHO/WHO
1 Introdução
A Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) é considerada referência em cooperação
técnica em informação científica em saúde na América Latina e Caribe. Seu modelo
de gestão foi construído a partir de um esforço colaborativo entre o Centro Latino
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME/OPAS/OMS)

e vários países em consonância com o contexto de globalização, de mudanças
tecnológicas aceleradas e de permanentes desafios dos sistemas de saúde e
políticas públicas em prol da equidade.
Além do seu papel de registrar, organizar, preservar, relacionar e disseminar
conteúdos das fontes de informação, a BVS promove junto às instituições
participantes o desenvolvimento de suas capacidades locais com metodologias e
tecnologias gratuitas e abertas, fomentando também à elaboração de políticas
nacionais de informação científica e técnica sincronizadas com o paradigma de
informação da internet. O trabalho em rede busca fortalecer cada instituição e evitar
a duplicação de ações por meio do fortalecimento da comunicação entre pares.
Considerando-se a necessidade de determinação de padrões de qualidade e
definição de standards comuns para toda Rede, uma das atividades desenvolvidas
pela BIREME/OPAS/OMS para apoiar a Rede BVS em sua evolução e adequação
ao Modelo da BVS é o Processo de Avaliação de Instâncias da BVS, que visa
orientar cada instância da rede em sua atualização constante e permite classificá-las
em diferentes estágios de desenvolvimento. Este trabalho busca apresentar os
desafios encontrados neste processo de avaliação, os mecanismos usados e os
resultados alcançados.
2 Revisão de Literatura
A BVS é resultado do programa de cooperação em saúde desenvolvido sob
liderança da OPAS/OMS e coordenado pela BIREME/OPAS/OMS em toda região da
América Latina Caribe. Acompanhando os paradigmas de gestão e operação de
produtos e serviços na internet e buscando atender às necessidades de informação,
pesquisa e atenção à saúde, o trabalho desenvolvido pela BIREME/OPAS/OMS
desde 1967 iniciou-se com uma rede bibliotecas especializadas e a partir de 1998
evoluiu para a BVS.
“O paradigma da BVS conforma uma inovação importante, que é a
operação de redes em duas dimensões. Na primeira delas, têm-se as redes
de instituições e indivíduos que operam os fluxos de informação e de

trabalho, isto é, os atores relacionados com a produção, a intermediação e a
exploração das fontes de informação. Na segunda dimensão, têm-se as redes
de fontes de informação propriamente ditas, que são organizadas e
indexadas na BVS. Essas incluem qualquer recurso que responda a uma
necessidade de informação, produtos, serviços e eventos.” (PACKER, 2005).
A intersecção entre essas duas dimensões apontam o diferencial da BVS ao
propiciar a comunicação entre os atores envolvidos e o fortalecimento das fontes de
informação, visando o aperfeiçoamento e crescimento contínuo de ambas as redes.
Este modelo fomenta o desenvolvimento das capacidades dos produtores,
intermediários e usuários ao mesmo tempo que busca responder demandas de
informação em diferentes contextos e temáticas, aprimorando a qualidade dos
conteúdos ao contextualizar as demandas informacionais.
À BIREME/OPAS/OMS como coordenadora regional da Rede BVS cabem,
entre outras, as funções de acompanhar e avaliar periodicamente o desenvolvimento
da BVS e coordenar o desenvolvimento do Modelo da BVS. Os processos de
avaliação de cada uma das instâncias da BVS são importantes para que as mesmas
estejam alinhadas ao modelo conceitual e seja assegurada também a
interoperabilidade necessária para o trabalho em rede. Céspedes (2006) discorre
sobre a avaliação de bibliotecas virtuais desenvolvendo-se em três dimensões:
biblioteconômica, tecnológica e interação usuário-sistema e elenca como
indicadores para avaliação de bibliotecas virtuais/digitais: identidade, atualização,
acessibilidade, arquitetura de informação, serviços de informação, coleções,
conteúdo, desenho da interface, posicionamento, sistema de busca e recuperação,
usabilidade.
Na BIREME/OPAS/OMS, o aperfeiçoamento constante do processo de
avaliação vem em resposta à demanda de ferramentas e processos mapeados para
compartilhamento com toda Rede BVS. Vilella (2000) apresenta o mapeamento de
processos como uma “forma sistematizada que pode abrir as suas portas não
apenas para a inovação e mudança, mas para novos modelos organizacionais mais
leves e fluidos”. O esforço na clareza de critérios e processos busca mais uma vez

fortalecer a dimensão de construção coletiva do conhecimento na BVS.
3 Materiais e Métodos
A Rede BVS registra atualmente mais de 120 iniciativas em mais de 30
países, com cada uma destas instâncias desenvolvendo-se de acordo com as
possibilidades e estruturas locais das instituições participantes.
“Como espaço de domínio público, a BVS não tem dono e a sua
gestão deve ser compartilhada e realizada em rede. Em particular, a função
da cooperação técnica entre as instituições, promovida e coordenada pela
OPAS/OMS, por meio da BIREME, é regida pelos seguintes princípios: busca
da eqüidade de acesso à informação em saúde; promoção de alianças e
consórcios para maximizar o uso compartilhado de recursos; promoção do
trabalho cooperativo e do intercâmbio de informação, experiências e
conhecimento; desenvolvimento e operação em rede com descentralização
em todos os níveis geográficos, temáticos e institucionais; desenvolvimento
baseado nas condições locais; estabelecimento e aplicação de mecanismos
integrados de avaliação e controle de qualidade”. (PACKER, 2005.)
Os estágios de evolução de cada uma das instâncias desta rede, crescente
há mais de 12 anos, são monitorados e atribuídos de acordo com a seguinte
classificação: Posta em marcha (piloto); Em Desenvolvimento e Certificada. Estes
estágios de evolução são determinados por avaliações que utilizam indicadores e
critérios pré-estabelecidos com objetivo de garantir a qualidade da Rede BVS e a
adoção de um modelo único de gestão da informação em saúde.

Iniciativas da Rede BVS segundo Estágio de
Evolução (jun. 2010)
15
77
37
Posta em Marcha
Em Desenvolvimento
Certificada
Gráfico 1 – Iniciativas da Rede BVS segundo Estágio de Evolução (junho de
2010) - Fonte: BIREME/OPAS/OMS
O processo de avaliação no Modelo BVS é introduzido quando a Rede BVS
situa-se em um movimento de franca expansão e crescimento de números de
iniciativas, e se detecta a necessidade de organizar e classificar as iniciativas da
Rede segundo os seus graus de desenvolvimento, reconhecendo também as
iniciativas de destaque que podem ser apontadas como referência. O Guia da BVS
2001 (BIREME/OPAS/OMS, 2001, p.6) apresenta os primeiros pontos analisados na
avaliação de iniciativas: existência de acordo entre instituições produtoras,
intermediárias e usuárias de informação sobre ciências da saúde para a adoção do
modelo da BVS; existência de um Comitê Consultivo com a função de coordenar o
trabalho cooperativo na BVS; um plano de trabalho que oriente o desenvolvimento
da instância (acompanhado de uma matriz de distribuição de responsabilidades, ou
seja, indicando para cada fonte de informação a instituição coordenadora e as co-
operantes); e o próprio portal da BVS com as fontes de informação (seja no âmbito
nacional, regional ou temático) operando de forma descentralizada.

Através dos anos o processo de avaliação de instâncias da BVS evolui de
forma constante e em consonância com a própria evolução do Modelo da BVS,
alinhado a uma série de esforços no sentido de definir indicadores para realizar esta
avaliação, até então baseada em conhecimento tácito. No modelo atual, a avaliação
que atribui à BVS o status de “Certificada” - também chamada de Avaliação para
Certificação da BVS - é um processo criterioso para assegurar que sejam
certificadas apenas instâncias destacadas pela qualidade e pelo trabalho dinâmico e
cooperativo de seu Comitê Consultivo. A certificação reconhece padrões de
excelência que atendam as demandas dos usuários e procuram exceder suas
expectativas informacionais, segundo os atuais paradigmas da internet, priorizando
sempre a democratização do acesso à informação em saúde.
Em 2008 a BIREME/OPAS/OMS publica o primeiro documento de Critérios
para a avaliação dos portais da BVS. Sua base de construção é empírica, mas dá
origem a uma nova abordagem e mudança que guiará a definição dos processos e
aperfeiçoamento dos fluxos de trabalho com o objetivo de garantir a qualidade e a
adoção de um modelo único de gestão da informação em saúde
A partir de 2009, cada avaliação passa a ser trabalhada por um Comitê de
Avaliação conformado por um grupo de especialistas da BIREME/OPAS/OMS de
diferentes áreas envolvidos no processo de avaliação. Cada avaliação passa então
pela análise de ao menos 3 profissionais desse Comitê, até que seja definido o
parecer final. Também neste período diante da necessidade de revisão do
documento em virtude das atualizações inerentes do Modelo da BVS, é realizado o
mapeamento do processo de avaliação e publicado o ”Documento Base de
Avaliação de Instância da BVS” (BIREME/OPAS/OMS, 2010). Os documentos são
construídos com base na experiência no desenvolvimento deste tipo de ação e são
apresentados primeiramente para coletar contribuições da Rede Brasileira e após
uma primeira fase de validação, socializados com toda a Rede BVS.

4 Resultados Parciais/Finais
O “Documento Base de Avaliação de Instância da BVS”
(BIREME/OPAS/OMS, 2010) vem sendo utilizado com sucesso, sendo utilizado
como um roteiro que guia os avaliadores na análise da BVS até que seja definido o
parecer final, explicitado no Relatório de Avaliação da BVS. Este relatório, além de
indicar o estágio de desenvolvimento da iniciativa orienta as instituições do Comitê
Consultivo com sugestões e recomendações relativas à adoção do Modelo. Permite
também identificar as fortalezas, debilidades e os próximos passos que permitirão
sua evolução.
A sistematização do processo de avaliação de BVS permitiu a formalização do
Ciclo de Vida da BVS que vem sendo documentada por meio de fluxogramas
detalhados de cada um dos processos que envolvem a atividade. Este esforço busca
tornar cada vez mais transparentes os processos, procedimentos e critérios, em que
a própria Rede é convidada a colaborar e registrar suas opiniões por meio de
reuniões presenciais e fóruns em espaços colaborativos on-line, onde os
documentos, fluxos e guias são publicados para discussão.

Figura 1: Ciclo de Vida da BVS - Fonte: BIREME/OPAS/OMS
As atividades de avaliação das instâncias da Rede BVS são desenvolvidas
periodicamente pela BIREME/OPAS/OMS.. Além disso, a partir da documentação
publicada online qualquer BVS pode realizar sua auto-avaliação, e consideradas as
condições de mudança de status solicitar uma avaliação à BIREME/OPAS/OMS, que
dará início ao processo. Esse procedimento promove a evolução da Rede como um
todo, e divulga o próprio Modelo da BVS.
5 Considerações Parciais/Finais
Se o mapeamento de processos em uma instituição é complexo, realizá-lo em
nível de rede de instituições é uma tarefa ainda mais desafiadora, uma vez que
processos são constantemente adaptados aos ambientes em que estão inseridos.
Encontra também o desafio das variações individuais (induzidas pelas pessoas que
nele trabalham) e mudanças de planos de negócio organizacionais. Todavia, permite

identificar as incongruências e oportunidades de melhoria, proporcionando um
exercício de reflexão, debates, alinhamentos e responsabilidades – principalmente
quando retroalimentado constantemente.
O contato permanente e o monitoramento constante fortalecem a Rede,
melhoram a comunicação entre a BIREME/OPAS/OMS e coordenadores de
instâncias da BVS temáticas, nacionais e regionais, e estabelecem laços de
confiança e reciprocidade, que são complementados com o apoio em atividades de
suporte técnico, capacitações, projetos de cooperação técnica e realização de
eventos de promoção e divulgação interinstitucionais.
Embora os mecanismos de avaliação sejam pré-estabelecidos, aplicados e
recomendados de forma padronizada, o processo de avaliação é também uma
análise qualitativa que aponta permanentemente caminhos de aperfeiçoamento, sem
a intenção de ser conclusiva. Assim a avaliação da Rede BVS como um todo é
objeto constante de estudos e aprofundamento por sua complexidade.
6 Referências
BIREME/OPAS/OMS. Documento base de Avaliação de Instância da BVS. Disponível
em: <http://bvsmodelo.bvsalud.org/download/bvs/DocBaseAvaliacao-pt-2010.doc>. Acesso
em: 20 de jun. 2010.
BIREME/OPAS/OMS. Guia da BVS 2001 para o desenvolvimento da Biblioteca Virtual
em Saúde. São Paulo, BIREME, 2001. Disponível em:
<http://regional.bvsalud.org/bvs/reuniao/doc/guiabvs2001.doc>. Acesso em: 20 de jun. 2010.
BIREME/OPAS/OMS. Modelo da Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível em:
<http://bvsmodelo.bvsalud.org/>. Acesso em: 20 de abr. 2010.
CÉSPEDES, Zulia Ramírez. Critérios e indicadores para evaluar las bibliotecas
digitales. Disponível em: <http://www.bvs.sld.cu/revistas/aci/vol14_6_06/aci04606.htm>.
Acesso em: 20 jun. 2010.
Grupo de Trabalho para Avaliação da BVS. Informe de Avaliação da BVS em seus 10
anos de operação. São Paulo: BIREME / OPAS / OMS, Setembro 2008... Disponível em:
<http://bvsmodelo.bvsalud.org/download/bvs/informe-bvs-10-anos-2008-pt.pdf>. Acesso em:
20 de abr. 2010.

Guzzo, Claudia Hofart. et al. Certificação de Bibliotecas Virtuais em Saúde (BVS): estratégia
para assegurar a qualidade da informação em saúde na internet. In: Congreso Regional de
Información en Ciencias de la Salud, 8., Rio de Janeiro. Pôster... São Paulo: BIREME, 2008.
PACKER, Abel Laerte. A construção coletiva da Biblioteca Virtual em Saúde. Interface
(Botucatu), Botucatu, v. 9, n. 17, ago. 2005 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
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VILLELA, Cristiane S. S. Mapeamento de processos como ferramenta de reestruturação
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<http://www.portaldeconhecimentos.org.br/index.php/eng/content/download/12208/121298/fil
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