O USO DE TECNOLOGIAS APLICADAS À RACIONALIZAÇÃO DE
SERVIÇOS BIBLIOTECÁRIOS: a implantação do sistema de
biometria na Rede de Bibliotecas da UNESP
Flavia Maria Bastos1, Marta Lígia Pomim Valentim2
1Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, UNESP, Marília, SP e
Bibliotecária da Coordenadoria Geral de Bibliotecas (CGB), UNESP, São Paulo, SP
2Professora Doutora do Departamento de Ciência da Informação, UNESP, Marília, SP e
Coordenadora da Coordenadoria Geral de Bibliotecas (CGB), UNESP, São Paulo, SP
Resumo
O presente trabalho apresenta uma nova forma de proporcionar mais segurança e agilidade
ao serviço de empréstimo da Rede de Bibliotecas da Universidade Estadual Paulista
(UNESP). Para tanto, a tecnologia escolhida foi a biometria, definida como a medida de
características fisiológicas que podem ser utilizadas para verificar a identidade de uma
pessoa. O tipo biométrico selecionado foi a impressão digital no modo verificação, por ser
um método rápido, e de baixo custo. Para implantação foi elaborado um projeto piloto em
duas bibliotecas da Rede Unesp com duração de três meses, sendo o primeiro mês
dedicado a coleta das digitais dos usuários e o segundo e terceiro meses dedicado ao
empréstimo com o uso da impressão digital. O usuário durante o momento do empréstimo
deverá digitar seu ID (número do CPF) e em seguida inserir sua impressão digital para que o
sistema faça a verificação apresentando o resultado verdadeiro ou falso, no caso de ser
verdadeiro, o sistema trará o cadastro do usuário com todas as informações cadastrais.
Como resultado observou-se uma maior flexibilidade e segurança durante o momento
empréstimo para os usuários e para os funcionários da biblioteca.
Palavras-Chave: Biometria 1.
Abstract
This paper presents a new way to provide greater safety and agility to service the loan of the
Network of Libraries of the Universidade Estadual Paulista (UNESP). Therefore, the
technology was chosen biometrics, defined as the measurement of physiological
characteristics that can be used for verifying the identity of a person. The type was selected
biometric fingerprint verification mode, because it is a fast and low cost. Deployment was
developed a pilot project in two UNESP lasting three months, the first month dedicated to the
digital collection of users and the second and third months devoted to the loan using the
fingerprint. The user at the time the loan must enter your ID (Social Security Number) and
then insert your fingerprint to the system to do the scan showing the result true or false, if this

is true, the system will provide user registration with all the registration information. As a
result there was greater flexibility and security during the borrowing time for users and library
employees.
Keywords: Biometrics 1.
1 Introdução
A Rede de Bibliotecas da Unesp é composta atualmente por 33 bibliotecas
distribuídas pelo Estado de São Paulo, atendendo aproximadamente 65 mil usuários
cadastrados.
Desde 1997 a Rede de Bibliotecas da Unesp utiliza o software Aleph para
gerenciar suas atividades através dos módulos integrados que compõem o sistema.
Inicialmente a estrutura de bases de dados adotada era composta por um catálogo
coletivo e as diversas bases locais representadas por cada uma das bibliotecas na
época.
Neste período o módulo de circulação responsável por gerenciar as atividades
relacionadas ao empréstimo e devolução de materiais controlava localmente as
atividades referentes aos usuários de uma determinada biblioteca, sendo que, com
essa estrutura de bases locais, os usuários necessitavam ao realizarem o
empréstimo, apresentar o cartão da biblioteca para retirar as obras de interesse de
uso. No entanto, o cartão não era suficiente para certificar que o usuário era de fato
o dono do cartão.
Ocorriam assim, reclamações por parte dos usuários sobre a perda do cartão
e, muitas vezes, descobria-se que outra pessoa havia feito uso indevido do cartão
para a retirada de materiais da biblioteca. Além disso, o custo para a elaboração de
cartões para toda a comunidade usuária era muito elevada, bem como demandava
certo tempo para a preparação, necessitando de um funcionário dedicado à esta
atividade.
No intuito de minimizar esses tipos de problemas, unificou-se as bases de
usuários locais e implementou-se o sistema biométrico na Rede de Bibliotecas da
Unesp, cujo objetivo é racionalizar e otimizar o tempo das atividades relacionadas ao
empréstimo de materiais e, principalmente, propiciar maior segurança ao usuário e
ao funcionário do balcão de empréstimo.
Ressalta-se que o uso dessa tecnologia possibilita uma nova relação entre os
usuários e o serviço de empréstimo oferecido pelas bibliotecas, permitindo maior
interação, rapidez e eficácia ao serviço.

2 Revisão de Literatura
A sociedade contemporânea, caracterizada pelas grandes mudanças
relacionadas à ampliação dos fluxos da informação e de produção e difusão do
conhecimento em escala global, caminha junto com as Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) na chamada era da informação.
Para Castells (2006), a nossa era é a era da informação, marcada por um
processo de transformação histórica e por uma revolução tecnológica centrada nas
tecnologias digitais de informação e comunicação, que surge simultaneamente numa
estrutura social em rede, ligada aos espaços da atividade humana, que ao mesmo
tempo permanecem ligados e dependentes globalmente. De acordo com o autor,
ainda que a internet seja um instrumento relacionado à atividade econômica, a
grande massa de fluxos de informação não se concentra no uso comercial, mas sim
no uso social e pessoal, assim a rede permanece contínua com amplo e
diversificado espaço social oriundo das tecnologias de acesso móvel.
Em 1994, Rowley já afirmava que a informática exercia uma influência
fundamental no funcionamento das bibliotecas e serviços de informação. Nesse
contexto, as bibliotecas passaram a ter seus produtos e serviços movidos pelos
avanços da tecnologia da informação, que acompanharam a explosão informacional
nos diversos formatos que espelham o acervo impresso, eletrônico e digital das
bibliotecas.
Autores como Barreto (2007) e Martín-Barbero (2006) apresentam uma
reflexão muito mais intensa sobre as novas tecnologias direcionando o foco à nova
forma de nos comunicarmos e nos relacionarmos com a informação e conhecimento,
que estão muito além dos novos cabos, fibras, fios, computadores, entre outros.
Hoje com o resultado das novas formas de comunicação, os usuários passam
a ampliar suas possibilidades de interagir com a informação que resulta em
melhorias na questão de segurança e autenticidade dos usuários.
Atualmente, a tecnologia mais utilizada no reconhecimento de pessoas tem
sido a biometria, que há alguns anos vem sendo usada na área criminal para
identificar criminosos, como por exemplo, os estrangeiros ilegais, certificado de
segurança para os trabalhadores e prisioneiros. Com a evolução no uso da
biometria, este recurso esta cada vez mais presente no reconhecimento de pessoas
em um grande número de aplicações civis como bibliotecas, empresas e
laboratórios.
De acordo com Shekar e Raghavendra (2009, p.383) os sistemas baseados
em biometria estão sendo implementados nas bibliotecas para evitar o uso indevido
do cartão utilizado para os serviços da biblioteca; atendimento ao usuário de forma
mais eficiente; controle da criação de cadastros de usuários duplicados; e

acompanhamento de usuários não-membros da biblioteca.
Esses sistemas podem basear seu funcionamento em características de
diversas partes do corpo humano, por exemplo: os olhos, a palma da mão, as
digitais do dedo, a retina ou íris dos olhos. A premissa desses sistemas é de que
cada indivíduo é único e possui características físicas e de comportamento (a voz, a
maneira de andar, etc.) distintas.
Ainda segundo Shekar e Raghavendra (2009, p.383) qualquer alteração
fisiológica humana e/ou característica comportamental podem ser usadas como uma
característica biométrica, desde que preencha os requisitos - da universalidade:
onde cada pessoa deve ter suas características; - da distinção: onde duas pessoas
devem ser suficientemente diferentes em termos das características; - da
permanência: onde a característica deve ser suficientemente invariante (em relação
ao critério de correspondência) durante um período de tempo; e - da exigibilidade:
onde a característica pode ser medida quantitativamente.
Um sistema biométrico é essencialmente um sistema de reconhecimento de
padrões que opera através da aquisição de dados biométricos do indivíduo e extrai
um conjunto de recursos a partir da aquisição de dados, que segue comparado a
este conjunto de recursos definido no banco de dados. Dependendo do contexto de
aplicação, um sistema biométrico pode operar no modo de verificação ou
identificação:
- No modo de verificação, o sistema valida a identidade de uma pessoa
comparando os dados biométricos capturados com seu próprio modelo biométrico
armazenado pelo sistema no banco de dados.
- No modo de identificação, o sistema reconhece um indivíduo procurando os
modelos de todos os usuários no banco de dados para uma partida.
Em relação aos principais componentes de um sistema biométrico
destacamos:
- Captura: aquisição de uma amostra biométrica;
- Extração: conversão da amostra para um formato intermédio;
- Criação de um padrão: conversão do formato intermédio para um padrão
que possa ser armazenado, Template;
- Comparação: comparação com a informação armazenada no padrão.
O equipamento utilizado nesse sistema é o leitor biométrico, que identifica os
usuários por meio da biometria (impressão digital) e garante o mais alto nível de
eficiência no controle de ponto e/ou controle de acesso e autenticação dos usuários,

em aplicações como o Sistema de Circulação da biblioteca.
O leitor biométrico possui uma película revestida de silicone que envolve o
prisma acrílico da lente de captura da imagem da impressão digital. A película serve
para facilitar a leitura das impressões digitais. Ela é resistente às situações de uso
normal, contudo pode ser danificada de forma intencional, ou seja, é passível de
danos provocados por estiletes, unhas e outros materiais cortantes.
O uso dessa tecnologia no contexto da Rede de Bibliotecas da Unesp
representa não só um ganho econômico em seu orçamento, mas representa uma
nova forma de garantir segurança e eficiência nos serviços prestados a seus 65 mil
usuários.
3 Materiais e Métodos
Em relação à extração dos pontos da impressão digital, utilizou-se o recurso
de verificação para o reconhecimento de um usuário com impressão digital já
cadastrada no sistema da biblioteca. Para a utilização do sistema biométrico optou-
se por trabalhar com um número de identificação (ID) e a impressão digital que
corresponde a senha registrada e informada pelo usuário no sistema de empréstimo
Aleph.
Dessa forma, para a realização do empréstimo de materiais nas bibliotecas da
Rede Unesp, os usuários necessitam apresentar um código (CPF) ou o cartão da
biblioteca. Após a apresentação do código, o sistema faz a busca no banco de dados
que contém o modelo (template) da impressão digital do usuário previamente
coletada, isto é, o scanner captura e, automaticamente, compara a impressão digital
do usuário com o modelo (template) armazenada no banco de dados. O resultado da
comparação pode ser verdadeiro ou falso e, no caso de ser verdadeiro, o sistema
trará o cadastro do usuário com todas as informações cadastrais.
Para o desenvolvimento desse trabalho foram selecionadas duas bibliotecas
da Rede Unesp, na cidade de Botucatu, para participarem do projeto piloto de
implantação. Durante o período de três meses, foram realizados testes com o
sistema biométrico, tanto na interface Web para a coleta da digital, quanto na
interface gráfica para a realização do empréstimo de materiais.
Inicialmente, os funcionários das duas bibliotecas receberam capacitação
para trabalharem com o sistema nas referidas interfaces. Após a capacitação, os
funcionários das bibliotecas trabalharam nas duas etapas para colocarem o projeto
piloto em funcionamento: a primeira, com duração de um mês, para coleta da
impressão digital dos usuários e, a segunda com duração de dois meses, para
efetivamente realizar o empréstimo no sistema Aleph integrado ao sistema
biométrico.

Durante o período do projeto piloto, cada biblioteca utilizou estratégias de
marketing para chamar a atenção da comunidade usuária para o período de testes.
A cada falha apresentada pelo sistema, conforme os relatos dos funcionários das
bibliotecas, havia uma ação por parte das equipes da empresa responsável pelo
sistema biométrico e pela Coordenadoria Geral de Bibliotecas.
4 Resultados Finais
Atualmente a Rede de Bibliotecas está na fase da coleta das impressões
digitais dos usuários, considerando que para iniciar as atividades de empréstimo
utilizando o sistema biométrico é necessária a coleta de pelos menos a metade dos
usuários cadastrados na biblioteca.
Para a apresentação desse novo serviço à comunidade de usuários foi
elaborado um folder explicativo, visando explicar e divulgar o funcionamento do
serviço.
Observa-se que, com a implantação do sistema biométrico, houve uma
significativa redução nos custos relacionados à elaboração de cartões para os
usuários. Além disso, nota-se maior segurança do usuário e do funcionário do balcão
no momento do empréstimo.
5 Considerações Finais
O presente trabalho demonstra como a tecnologia pode contribuir de maneira
eficiente para a racionalização dos serviços oferecidos pelas Bibliotecas da Rede
Unesp.
No caso da utilização do sistema biométrico foi possível refletir amplamente
sobre o conteúdo dos campos preenchidos no cadastro de usuários, uma vez que
elaborou-se uma instrução normativa para o preenchimento do cadastro de usuários,
visando a integração com outros sistemas da Universidade.
O estudo realizado para chegar-se ao sistema biométrico indicou que é
importante as bibliotecas universitárias implementarem tecnologias que auxiliem na
racionalização de serviços e produtos, bem como integrem agilidade à segurança do
usuário.

6 Referências
BARRETO, A. A. Uma história da Ciência da Informação. In: Toutain, L. M. B. B. (Org.). Para
entender a Ciência da Informação. Salvador: EDUFBA, 2007. p13-34
CASTELLS, M. Inovação, liberdade e poder na era da utopia tecnológica. In: MORAES,
Denis de. (Org). Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
MARTÍN-BARBERO, J. Tecnicidades, identidades, alteridades: mudanças e opacidades da
comunicação no uso. In: MORAES, Denis de (Org). Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro:
Mauad, 2006.
ROWLEY, Jennifer. Informática para bibliotecas. Brasília: Briquet de Lemos, 1994.
307p.
SHEKAR, H. P.; RAGHVENDRA, R. Use of biometrics and RFID technologies in libraries. In:
KATARIA, S.; NIGAM, B.S.; SHUKLA, R. K. (Ed.) Emerging trends and technologies in
libraries and information services. New Delhi: KBD Publications, 2009